Ramanujão
Posted by Consphirayshion | Posted on 00:47
Num dia dos princípios do ano de 1887, um brâmane da
província de Madrasta dirige-se ao templo da deusa Namagiri.
O brâmane casou sua filha há já vários meses, e a união mantém-se
estéril. Que a deusa Namagiri a fecunde! Namagiri atende
a sua prece. A 22 de Dezembro nasce um rapaz, ao qual é dado
o nome de Srinivasa Ramanujão Alyangar. Na véspera, a deusa
aparecera à mãe para lhe anunciar que seu filho seria extraordinário.
Aos cinco anos metem-no na escola. Imediatamente a sua
inteligência é de espantar. Parece já saber o que lhe ensinam.
É-lhe concedida uma bolsa para o liceu de Kumbakonão, onde é
admirado pelos condiscípulos e professores. Tem quinze anos.
Um de seus amigos faz com que a biblioteca local lhe empreste
um volume intitulado: A Synopsis of Elementary Results in Pure
and Applied Mathematics. Essa obra, publicada em dois volumes,
é um sumário redigido por George Shoobridge, professor em
Cambridge. Contém resumos e enunciados sem demonstração de
6000 teoremas, mais ou menos. O efeito que produz no espírito
do jovem indu é fantástico. O cérebro de Ramanujão começa
bruscamente a funcionar de maneira totalmente incompreensível
para nós. Demonstra todas as fórmulas. Depois de esgotar a geometria,
ataca a álgebra. Ramanujão contará mais tarde que a
deusa Namagiri lhe apareceu para lhe explicar os cálculos mais
difíceis. Aos dezasseis anos fica mal nos exames, pois o seu
inglês continua fraco, e a bolsa é-lhe retirada. Prossegue sozinho,
sem documentos, as suas investigações matemáticas. Em primeiro
lugar põe-se em dia com todos os conhecimentos na
matéria, no ponto em que eles estão em 1880. Pode desprezar o
trabalho desse professor Shoobridge. Ultrapassa-o largamente.
Sozinho, recria, depois ultrapassa todo o esforço matemático da
civilização - a partir de um sumário, aliás incompleto. A história
do pensamento humano não conhece outro exemplo. O próprio
Galois não trabalhara sozinho. Fizera os seus estudos na Escola
Politécnica, que era na época o melhor centro matemático do
Mundo. Tinha acesso a milhares de obras. Estava em contacto
com sábios de primeira ordem. Nunca o espírito humano se
ergueu tão alto com tão pouco apoio.
Em 1909, após anos de trabalho solitário e de miséria, Ramanujão
casa-se. Procura um emprego. Recomendam-no a um cobrador
de impostos local, Ramachandra Raô, amador esclarecido de
matemática. Este deixou-nos uma descrição do encontro:
"Um homenzinho pouco limpo, por barbear, com uns olhos
como jamais vi, entrou no meu quarto, com um livro de notas
usado debaixo do braço. Falou-me de descobertas maravilhosas
que ultrapassavam infinitamente o que eu sabia. Perguntei-lhe
o que poderia fazer por ele. Disse-me que queria apenas ter o
suficiente para comer, a fim de poder continuar as suas investigações.
Ramachandra Raô concedeu-lhe uma pequena pensão. Mas
Ramanujão é demasiado orgulhoso. Arranjam-lhe finalmente uma
situação: um medíocre lugar de contabilista no porto de Madrasta.
Em 1913 aconselharam-no a entrar em correspondência com
o grande matemático inglês G. H. Hardy, na altura professor em
Cambridge. Ele escreve-lhe e envia-lhe pelo mesmo correio 120
teoremas de geometria que acaba de demonstrar. Hardy viria a
escrever mais tarde:
"Essas notas só poderiam ter sido escritas por um matemático
do mais alto calibre. Nenhum usurpador de ideias, nenhum
aldrabão, mesmo genial, teria possibilidades de apreender abstracções
tão elevadas". Propõe imediatamente a Ramanujão que
se dirija a Cambridge. Mas a mãe opõe-se, por razões religiosas.
É uma vez mais a deusa Namagiri que resolverá a dificuldade.
Aparece à velha dama para a convencer de que seu filho pode
ir para a Europa sem perigo para a sua alma, e mostra-lhe, em
sonhos, Ramanujão sentado no grande anfiteatro de Cambridge
no meio dos ingleses que o admiram.
No final do ano de 1913, o hindu embarca. Durante cinco
anos irá trabalhar e fazer avançar prodigiosamente as matemáticas.
É eleito membro da Sociedade Real das Ciências e nomeado
professor em Cambridge, no colégio da Trinity. Em 1918 adoece.
Ei-lo tuberculoso. Regressa a Índia para morrer, aos trinta e
dois anos.
Deixou em todos aqueles que dele se aproximaram uma
recordação extraordinária. Só vivia no meio dos números. Hardy
vai visitá-lo ao hospital, e diz-lhe que apanhou um táxi. Ramanujão
pergunta o número do automóvel: 1729. "que belo número!,
exclama; é o mais pequeno que seja duas vezes uma soma de
dois cubos!" De facto, 1729 é igual a 10 ao cubo mais nove ao
cubo, e também a 12 ao cubo mais 1 ao cubo. Hardy precisou
de seis meses para o demonstrar, e o mesmo problema ainda
não está resolvido para a quarta potência.
A história de Ramanujão é daquelas em que ninguém acreditaria.
Mas é rigorosamente verdadeira. Não é possível exprimir
em termos simples a natureza das descobertas de Ramanujão.
Trata-se dos mistérios mais abstractos da noção do número,
e particularmente dos números primos.
Fora das matemáticas não se sabe bem quais as coisas que
interessavam a Ramanujão. Preocupava-se pouco com a arte e
a literatura. Apaixonava-se pelo extraordinário. Em Cambridge
organizara uma pequena biblioteca e um ficheiro sobre toda a
espécie de fenómenos desconcertantes para a razão.
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